quinta-feira, 10 de abril de 2014

I Seminário de Teatro

Continuidade da formação do plano de ação estadual para o teatro.






Carta Aberta Colegiado Setorial de Teatro



Campo Grande/MS, 10 de abril de 2014.

Prezados/as,

Nós do colegiado Setorial de Teatro de Campo Grande somos trabalhadores/as profissionais do Teatro e temos na relação entre o nosso trabalho e o público a força motriz que impulsiona nossa criação. Somos pessoas comuns, igual a qualquer cidadão e cidadã que ama seu ofício e atua com honra, respeito e ética. 

À margem das universidades, dos editais públicos e premiações, a história do nosso teatro vem sendo contada por nos, toda vez que pisamos o espaço sagrado do palco, qualquer espaço, vemos nesse instante que nosso empenho, nosso sonho finalmente ganha corpo, se concretiza nesse instante em que público e artistas comungam desse ritual efêmero, mas provocador e instigante que é o espetáculo.

Chegamos com nosso teatro aos lugares onde consideramos que este seria de fato necessário: nos assentamentos, acampamentos, periferias, canaviais, praças, travessas, ruelas, parques e outros tantos lugares como forma de combater a alienação e exclusão cultural, valorizando a nossa identidade, criando um teatro multifacetário e popular, onde arte e política se fundem, voltado sim, para a grande maioria da população. Servimo-nos de qualquer espaço disponível para transformá-lo em palco deste teatro que pretendemos se torne o garimpeiro da historia de tantos e tantos sul-mato-grossenses, que seja mais uma ferramenta auxiliando o repensar da nossa aldeia, da humanidade e, motivando uma constante releitura da vida cotidiana.

Neste momento histórico em que vivemos, onde a maioria da população brasileira, por suas carências econômicas e culturais, não tem acesso as salas de espetáculos, o Colegiado Setorial de Teatro tem um papel fundamental na democratização da arte em nossa cidade, estado e nos países que nos fazem fronteira. É papel do Estado estimular e fomentar essa democratização que é o anseio da população.

Todas as vezes que o teatro se apresenta nos lugares mais inusitados seja num prostíbulo, numa praça, numa sala teatral ou à beira da estrada para acampados, surge o público que, ao se perceber pela primeira vez assistindo teatro e gostando do que vê, o torna necessário em sua vida.

Hoje, quando são cada vez mais raros os verdadeiros encontros entre seres humanos, em que a criação de não-lugares onde não se estabelece contato, historicidade ou referência é a tônica de nossa arquitetura, organização e conseqüente relação, ou ainda, da incapacidade de estabelecê-la, se faz urgente e necessário a criação e manutenção de LUGARES, como é o caso dos vários coletivos, que lutam obstinadamente para continuarem existindo, pois o espaço físico é necessário, é imprescindível. É ali que está o material e o ambiente que tornam possível o repensar cotidianamente nossa prática, nossos erros e o aprender com eles, pois o teatro deve ser encarando como algo maior e mais importante que um simples entretenimento. A nós artistas cabe garantirmos que a arte teatral mantenha sua relevância histórica. Em oposição à lógica capitalista, onde a propriedade é privada, espaços como os existentes, são abertos, disponíveis para a população possibilitando o encontro, a descoberta e a comunhão entre pessoas, para que assim aconteça a retomada do homem na sua essência.

Repudiamos a ação dos 23 vereadores que não respeitaram a soberania da população cassando um prefeito eleito democraticamente. A democracia exige no mínimo uma consulta popular, uma nova eleição para que o povo decida o destino de sua cidade. Estamos à defesa da da soberania da população e da democracia com um direito humano.

É preciso incentivar e difundir o teatro de grupo e seus centros de criação e compartilhamento: é necessário que existam políticas públicas que garantam o desenvolvimento e a ampliação destas manifestações. Afirmar o teatro como arte singular e fundamental para o aprimoramento da condição de vida da maior parte da população, é contribuir para a emancipação do homem.